Auschwitz, uma viagem pelo mais tenebroso dos "Patrimônios da Humanidade"
Entrada para Auschwitz II (Birkenau), o campo de extermínio principal.
Auschwitz-Birkenau é o nome de um grupo de campos de concentração localizados no sul da Polônia, símbolos do Holocausto perpetrado pelo nazismo. A partir de 1940 o governo alemão comandado por Adolf Hitler construiu vários campos de concentração e um campo de extermínio nesta área, então na Polônia ocupada. Houve três campos principais e trinta e nove campos auxiliares.Os campos localizavam-se no território dos municípios de Auschwitz e Birkenau, versões em língua alemã para os nomes polacos de Oświęcim e Brzezinka, respectivamente. Esta área dista cerca de sessenta quilômetros da cidade de Cracóvia, capital da região da Pequena Polônia.
Localização do complexo Auschwitz-Birkenau
Os três campos:
Os três campos principais eram:
Uma das ruas de Auschwitz I.
Auschwitz I foi o centro administrativo de todo o complexo. Foi aberto em 20 de maio de 1940, a partir de barracas de tijolo do exército polonês. Os primeiros prisioneiros do campo foram 728 políticos poloneses de Tarnów. Inicialmente, o campo foi utilizado para internar membros da resistência e intelectuais poloneses, mais adiante foram levados para lá também prisioneiros de guerra da União Soviética, prisioneiros comuns alemães, elementos anti-sociais e homossexuais. No primeiro momento chegaram também prisioneiros judeus. Geralmente o campo abrigava entre treze e dezesseis mil prisioneiros, alcançando a quantidade de vinte mil em 1942.
À entrada de Auschwitz I lia-se (e ainda hoje se lê) as palavras: "Arbeit macht frei" (o trabalho liberta). Os prisioneiros do campo saíam para trabalhar durante o dia nas construções do campo, com música de marcha tocada por uma orquestra.
As SS geralmente seleccionavam prisioneiros, chamados kapos, para fiscalizar os restantes. Todos os prisioneiros do campo realizavam trabalhos e, excepto nas fábricas de armas, o domingo era reservado para limpeza com duches e não havia trabalho. As severas condições de trabalho unidas à desnutrição e pouca higiene faziam com que a taxa de mortalidade entre os prisioneiros fosse muito elevada. O bloco 11 de Auschwitz I era a prisão dentro da prisão e ali se aplicavam os castigos. Alguns deles consistiam em prendê-los por vários dias em cela demasiado pequena para sentar-se. Outros eram executados, pendurados ou deixados a morrer de fome.
Em Setembro de 1941, as SS realizaram no bloco 11 os testes do gás Zyklon B, nos que morreram 850 prisioneiros polacos e russos. Os testes foram considerados bem sucedidos e em consequência construíram uma câmara de gás e um crematório. Essa câmara de gás foi utilizada entre 1941 e 1942 para logo ser convertida em refúgio antiaéreo.
A primeira mulher chegou ao campo em 26 de março de 1942. Entre abril de 1943 e maio de 1944 levaram-se a cabo experimentos de esterilização em mulheres judias no bloco 10 de Auschwitz I. O objetivo era o desenvolvimento de um método simples que funcionasse com uma injeção para ser utilizado na população eslava. O doutor Josef Mengele experimentou com gêmeos nesse mesmo complexo. Quando um prisioneiro não se recuperava rapidamente, geralmente era executado com uma injeção letal de fenol.
Um bordel foi criado no verão de 1943 por ordens de Himmler. Estava localizado no bloco 24 e era utilizado para premiar os prisioneiros privilegiados. Os guardas selecionavam prisioneiras para este campo, mas também aceitavam voluntárias atraídas pelas melhores condições alimentícias.
Auschwitz II (Birkenau)
Campo de concentração de Auschwitz-Birkenau em 2001.
Auschwitz II (Birkenau) é o campo que a maior parte das pessoas conhece como Auschwitz. Ali se encerraram centenas de milhares de judeus e ali também foram executados mais de um milhão de judeus e ciganos.
campo está localizado em Brzezinka (Birkenau), a 3 km de Auschwitz I. A construção iniciou-se em 1941 como parte da Endlösung der Judenfrage (solução final). O campo tinha área de 2,5 por 2 km e estava dividido em várias seções, cada uma delas separadas em campos. Os campos, como o complexo inteiro, estavam cercados e rodeados de arame farpado e cercas elétricas (alguns prisioneiros utilizaram-nas para cometer suicídio). O campo albergou até 100.000 prisioneiros em dado momento.
O objetivo principal do campo não era o de manter prisioneiros como força de trabalho (caso de Auschwitz I e III) mas sim de exterminá-los. Para cumprir esse objetivo, equipou-se o campo com quatro crematórios e câmaras de gás. Cada câmara de gás podia receber até 2.500 prisioneiros por turno. O extermínio em grande escala começou na primavera de 1942.
A maioria dos prisioneiros chegava ao campo por trem, com freqüência depois de uma terrível viagem, em vagões de carga, que durava vários dias. A partir de 1944, estendeu-se a linha para que os trens chegassem diretamente ao campo. Algumas vezes, logo após a chegada, os prisioneiros eram conduzidos diretamente às câmaras de gás. Em outras ocasiões, os nazistas selecionavam alguns prisioneiros, sob a supervisão de Josef Mengele, para ser enviados a campos de trabalho ou para realizar experimentos. Geralmente as crianças, os anciãos e os doentes eram enviados directamente para as câmaras de gás.
Quando um prisioneiro passava pela seleção inicial, era enviado a passar um período de quarentena, após o que se lhe atribuía uma tarefa no próprio campo ou era enviado a trabalhar em algum dos campos de trabalho anexos.
Aqueles que eram selecionados para exterminação eram enviados a um dos grandes complexos de câmara de gás/crematório nos extremos do campo. Dois dos crematórios (Krema II e Krema III) tinham instalações subterrâneas, uma sala para despir e uma câmara de gás com capacidade para milhares de pessoas. Para evitar o pânico, informava-se às vítimas que receberiam ali uma ducha e um tratamento desinfetante. A câmara de gás tinha inclusive tubulações para duchas, embora nunca tenham sido conectadas à rede de água. Ordenava-se às vítimas que se despissem e deixassem seus pertences no vestiário, onde supostamente poderiam recuperá-las ao final do "tratamento", recomendando-se que recordassem o número da localização de seus pertences. Uma vez selada a entrada, descarregava-se o agente tóxico Zyklon B pelas aberturas no teto. As câmaras de gás nos crematórios IV e V tinham instalações na superfície e o Zyklon B se introduzia por janelas especiais nas paredes. Os corpos eram levados por prisioneiros selecionados para trabalhar na operação das câmaras de gás e fornos crematórios (chamados Sonderkommando), a uma sala de fornos anexa, para cremação.
A Alemanha invadiu a Hungria em março de 1944. Entre maio e julho de 1944, perto de 438.000 judeus da Hungria foram deportados para Auschwitz-Birkenau e a maioria deles foi lá executada. Se a capacidade dos fornos não era suficiente, os corpos eram queimados em fogueiras ao ar livre.
Famílias inteiras de ciganos foram encerradas em uma seção especial do campo. A maior parte foi para as câmaras de gás em julho de 1944; em 10 de outubro desse ano procedeu-se à execução dos meninos ciganos restantes em Birkenau.
Em 7 de outubro de 1944, os Sonderkommandos judeus, que eram mantidos separados do restante dos prisioneiros, organizaram uma revolta. As prisioneiras tinham conseguido extrair explosivos de uma fábrica de armas e os utilizaram para destruir parcialmente o crematório IV e tratar de escapar na confusão. Os 250 prisioneiros foram capturados e imediatamente executados.
Auschwitz III e os campos ajudantes
Visão de Auschwitz no inverno.
Os campos auxiliares de trabalho, instalados no complexo de Auschwitz, estavam estreitamente relacionados com a indústria alemã, principalmente nas áreas militar, metalúrgica e mineradora. O maior campo de trabalho era Auschwitz III Monowitz, que iniciou suas operações em maio de 1942. Este campo estava associado com a empresa IG Farben e produzia combustíveis líquidos e borracha sintética. A intervalos regulares, o pessoal médico de Auschwitz II fazia revisões sanitárias a fim de enviar os doentes e fracos às câmaras de gás de Birkenau
Mulheres em Auschwitz
As primeiras prisioneiras assim como as primeiras vigilantes chegaram ao campo em março de 1942, transladadas do campo de Ravensbrück na Alemanha. O campo feminino foi mudado para Auschwitz-Birkenau em outubro de 1942, e Maria Mandel foi nomeada chefe de vigilância. Perto de um total de 1.000 homens e 200 mulheres da SS serviram como supervisores de vigilância em todo o complexo de Auschwitz.
O conhecimento dos aliados
Desde 1940, Witold Pilecki, um soldado da Armia Krajowa (organização de resistência polonesa à ocupação nazista) foi voluntário para ser levado como prisioneiro a Auschwitz e produziu uma considerável quantidade de informação que foi levada até Varsóvia e dali até Londres. Por outra parte, os aliados tinham informação aérea detalhada dos campos desde maio de 1944. Dois prisioneiros que conseguiram fugir,(Rudolph Vrba e Alfred Wetzler), tinham reunido descrições precisas e mapas que chegaram aos aliados durante o verão de 1944. Em 13 de setembro de 1944, bombardeiros dos Estado Unidos atacaram a fábrica da Buna Werke associada com Auschwitz III, destruindo-a parcialmente.
Evacuação e liberação
As câmaras de gás do Birkenau foram destruídas pelos nazis em novembro de 1944 com a intenção de esconder as atividades do campo das tropas soviéticas. Em 17 de janeiro de 1945 os nazistas iniciaram uma evacuação do campo. A maioria dos prisioneiros deveria partir para o oeste. Aqueles muito fracos para caminhar foram deixados para trás. Perto de 7.500 prisioneiros (ou 3.000 segundo outras fontes), pesando entre 23 e 35Kg, foram liberados pelo Exército Vermelho em 27 de janeiro de 1945.
Alguns prisioneiros conhecidos
Anne Frank - foi internada em Auschwitz-Birkenau entre setembro e outubro de 1944. Logo foi transladada ao campo de concentração de Bergen-Belsen onde morreu de febre tifóide.
Edith Stein - católica de origem judia. Morreu nas câmaras de gás de Auschwitz II.
Elie Wiesel - sobreviveu a sua reclusão em Auschwitz III Monowitz e escreveu sobre suas experiências.
Felix Nussbaum - assassinado em Auschwitz em Agosto de 1944 com sua esposa Felka Platek.
Hans Krása - compositor tcheco, pereceu em Auschwitz.
Imre Kertész - húngaro, Prémio Nobel da Literatura, permaneceu em Auschwitz II por três dias no verão de 1944 após o que foi considerado apto para o trabalho corporal e foi transferido para Buchenwald.
Jean Améry - escritor austríaco.
Józef Cyrankiewicz - presidiu o governo da Polônia entre 1947 e 1952, e entre 1954 e 1970. Foi também presidente entre 1970 e 1972
Maximillian Kolbe - Padre Católico e Franciscano que foi prisioneiro em Auschwitz I se fazendo voluntário para morrer de fome em lugar de outro prisioneiro e morreu em 1941. Foi canonizado pelo Papa João Paulo II em 10 de Outubro de 1982, na presença de Franciszek Gajowniczek, o homem cujo lugar o padre tomou e que sobreviveu aos horrores de Auschwitz.
Miklos Nyiszli - médico patologista romeno com alto grau de conhecimento em medicina legal que foi enviado ao campo de Auschwitz, morreu em 1956.
Olga Benário Prestes - Alemã, Judia e Comunista, veio para o Brasil na década de 30, por determinação da Internacional Comunista, para apoiar o Partido Comunista do Brasil. Foi deportada pelo governo Vargas e presa em Lichtenburg, após foi morta na câmara de gás no Campo de extermínio de Bernburg.
Primo Levi - escritor italiano, esteve preso durante dez meses em Auschwitz, onde tinha de trabalhar na fábrica Buna-Werke. Foi libertado pelo Exército Vermelho e mais tarde escreveu sobre suas experiências.
Simone Veil - advogada e política francesa.
Viktor Frankl - médico e psiquiatra austríaco. Escreveu o livro "Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração".
Vladek Spiegelman - pai do cartunista Art Spiegelman autor de Maus.
Witold Pilecki - soldado polonês do Armia Krajowa, voluntário para "internar-se" em Auschwitz. Organizou a resistência e informou aos aliados do ocidente sobre as atrocidades que ali ocorriam. Tomou parte do levante de Varsóvia
Władysław Bartoszewski - Foi ministro polaco dos negócios estrangeiros entre 1995–2000.
Imagem aérea de Birkenau feita por um avião estadunidense de vigilância, em 25 de agosto de 1944.
Criminosos de guerra
Perto de um total de 7.300 membros da SS serviram em Auschwitz realizando pequenas ou grandes tarefas com o objetivo de obter a solução final ao problema judeu. A maioria deles sobreviveram à guerra. Deles, somente 750 foram levados a julgamento e a maioria somente em relação com crimes contra a população polonesa.
Negacionismo
Após o fim da Segunda Guerra Mundial houve intentos de negar o propósito dos campos de extermínio ou sua magnitude. Afirmou-se que seria impossível queimar um tal número de corpos ou que as instalações, que podem ser visitadas na atualidade, foram reconstruídas depois da guerra para que estivessem em concordância com o que se contou sobre Auschwitz ao final da guerra.
Patrimônio da Humanidade
Em 2002, a UNESCO incluiu as ruínas do Birkenau na Polônia no Patrimônio Comum da Humanidade.
Ruínas de Auschwitz - inscritas no Patrimônio da Humanidade, pela Unesco.
Auschwitz está lá para ninguém esquecer...
É surpreendente saber que as ruínas dos Campos de Extermínio de Auschwitz-Birkenau, no interior da Polônia, sejam considerados desde 2002 pela UNESCO como Patrimônios da Humanidade. Porém, o que a princípio pode até parecer ofensivo a todas as vítimas do Holocausto, adquire sentido após uma visita.
Monumento às vítimas do Holocausto em Auschwitz-Birkenau
É simplesmente impossível esquecer do que é visto e sentido em Auschwitz, e mais de 65 anos depois de descoberta a amplitude da tragédia que se abateu sobre os judeus, ciganos e outras minorias nos países ocupados pela Alemanha Nazista, uma visita a este que é um dos lugares mais pavorosos do planeta nos lembra do estrago que pode ser feito pela intolerância, alimentada por políticos mal-intencionados, aproveitando-se de uma situação econômica e social caótica.
Dormitórios dos Campos. Condições sub-humanas
Localizado a aproximadamente 60 km da cidade de Cracóvia (Kraków), segunda maior da Polônia, estima-se que mais de um milhão de Judeus, Ciganos e membros de outras minorias tenham sido exterminadas nos campos de Auschwitz entre 1940 e 1945, quando foram ocupados pelo Exército Soviético.
Mais uma pitada de ironia: Os prisioneiros saíam toda manhã para os trabalhos forçados ao som de uma orquestra formada pelos próprios colegas.
Fique agora com as fortes imagens do que restou do Complexo de Auschwitz-Birkenau, onde os prisioneiros chegavam em vagões superlotados, e eram conduzidos para salas de banho que na verdade eram Câmaras de Gás, numa operação logística friamente calculada e controlada.
Maquete da estrutura de Câmaras de Gás e Crematórios no Museu de Auschwitz
Os prisioneiros, que não sabiam que seriam executados, eram orientados a despir-se e deixar seus pertences em uma sala, onde eram fornecidas senhas das quais deveriam se lembrar para recuperar os objetos. O pretexto era de que iriam para uma área de duchas e desinfecção. Na verdade, eram trancados em salas e mortos com o gás ZyKlon B.
Cercas eletrificadas ao redor dos campos
A desnutrição era tal que os prisioneiros sequer tinham forças para tentativas de fuga
Vagão que trazia prisioneiros diretamente para Auschwitz, ponto final do ramal ferroviário que nenhum passageiro gostaria de ter utilizado
No museu, são mostrados os pertences dos prisioneiros executados no campo, que eram separados e catalogados metodicamente pelos nazistas. Ver todos aqueles objetos que fizeram parte da vida de pessoas que chegaram a Auschwitz talvez seja um dos momentos mais apavorantes da visita.
Malas
Sapatos
Próteses e Muletas
Canecas e Vasilhas
"Que este lugar seja para sempre um grito desesperado para a humanidade, onde nazistas assassinaram entre um milhão e um milhão e meio de homens, mulheres e crianças, principalmente judeus, de vários países da Europa"
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